Avançar para o conteúdo principal

COMO JÚLIO DANTAS DÁ INICIO À CAMPANHA PARA PROMOÇAO DO FADO A CANÇÃO NACIONAL

















PRIMEIRO ACTO
Um café de lepes*, na Mouraria, à entrada da rua do Capelão. Coito de bolieiros. alquiladores, marchantes e marafonas. Á esquerda alta, uma escadinha, dando para a sôbre-loja onde o Conde de Marialva tem um quarto alugado. Balcão à direita. Porta ao fundo com três degraus de pedra, deitando para a viela. Sôbre uma mesa, uma guitarra.

SCENA I
O ROMÃO, tipo de alquilador, alentejano, jaleca de astracan, calça de balbutina, espora num pé só, conversa com DIOGO, a uma das mesas da direita baixa. O MANGERONA, moço de café, cara alvar, segue do balcão a conversa. O CUSTÓDIA, pobre diabo epilético, aleijado de um pé, a cara arrepanhada pela cicatriz duma queimadura, ri sózinho, assentado num banco da esquerda baixa, a contar moedas de prata que vai descosendo do fôrro da véstia.
Júlio Dantas - A Severa (peça em quatro actos)

* Lepes - Moeda de dez réis. Entenda-se café muito popular.

Foto - Tipos populares na Rua do Capelão.
Arquivo Municipal de Lisboa

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O único retrato de Maria Severa

Palmira Torres, a personagem principal da peça "A SEVERA", de Júlio Dantas em 1906

E A "NOSSA" CANÇÃO NACIONAL NASCE AQUI

O fado da Severa Letra e Música: Sousa do Casacão 1848 Chorai, fadistas, chorai, Que uma fadista morreu, Hoje mesmo faz um ano Que a Severa faleceu. Morreu, já faz hoje um ano, Das fadistas a rainha, Com ela o fado perdeu, O gosto que o fado tinha. O Conde de Vimioso Um duro golpe sofreu, Quando lhe foram dizer: Tua Severa morreu! Corre à sua sepultura, O seu corpo ainda vê: Adeus oh! minha Severa, Boa sorte Deus te dê! Lá nesse reino celeste Com tua banza na mão, Farás dos anjos fadistas, Porás tudo em confusão. Até o próprio S. Pedro, À porta do céu sentado, Ao ver entrar a Severa Bateu e cantou o fado. Ponde nos braços da banza Um sinal de negro fumo Que diga por toda a parte: O fado perdeu seu rumo. Chorai, fadistas, chorai, Que a Severa se finou, O gosto que tinha o fado, Tudo com ela acabou. Quando, em 1867, Teófilo Braga publica no seu "Cancioneiro Popular" este fado de Sousa do Casacão (provávelmente o mais antigo fado de que existe registo), estava a abrir, inadvert...