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E A "NOSSA" CANÇÃO NACIONAL NASCE AQUI




























O fado da Severa
Letra e Música: Sousa do Casacão
1848

Chorai, fadistas, chorai,
Que uma fadista morreu,
Hoje mesmo faz um ano
Que a Severa faleceu.

Morreu, já faz hoje um ano,
Das fadistas a rainha,
Com ela o fado perdeu,
O gosto que o fado tinha.

O Conde de Vimioso
Um duro golpe sofreu,
Quando lhe foram dizer:
Tua Severa morreu!

Corre à sua sepultura,
O seu corpo ainda vê:
Adeus oh! minha Severa,
Boa sorte Deus te dê!

Lá nesse reino celeste
Com tua banza na mão,
Farás dos anjos fadistas,
Porás tudo em confusão.

Até o próprio S. Pedro,
À porta do céu sentado,
Ao ver entrar a Severa
Bateu e cantou o fado.

Ponde nos braços da banza
Um sinal de negro fumo
Que diga por toda a parte:
O fado perdeu seu rumo.

Chorai, fadistas, chorai,
Que a Severa se finou,
O gosto que tinha o fado,
Tudo com ela acabou.

Quando, em 1867, Teófilo Braga publica no seu "Cancioneiro Popular" este fado de Sousa do Casacão (provávelmente o mais antigo fado de que existe registo), estava a abrir, inadvertidamente, a porta a Júlio Dantas para desenvolver toda uma estratégia para tornar o fado de Lisboa como "A Canção Nacional".
Posteriormente, esta estratégia é consolidada pelo quadro de José Malhoa, a Severa, pelo primeiro filme sonoro português, A Severa de Leitão de Barros, e pelo aparecimento da primeira estação de rádio nacional, em simultâneo (inocente?) com o lançamento do fado "Novo Fado da Severa", do mesmo Júlio Dantas, largamento difundido pela nossa primeira estação radiofónica, a Rádio Colonial (outro símbolo, O "Império Colonial"...)

Novos capítulos deste folhetim se seguirão, incluindo, entre outros, as personagens, verídicas da Adelaide da Facada, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco e muitos, muitos outros...

Banza - Guitarra portuguesa

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